Corrupção. Joana Marques Vidal diz que fez "uma análise do que está à vista de toda a gente"

Depois de Lucília Gago ter considerado que as declarações sobre corrupção feitas pela ex-PGR na Renascença não trazem novidades, Joana Marques Vidal explica que se tratou de "uma análise sociológica e criminal da realidade dos factos" e que não está "a inventar nada".

Joana Marques Vidal, ex-Procuradora-Geral da República (PGR), diz ter feito uma análise do que está "à vista de toda a gente" quando se referiu à existência de redes de compadrio e corrupção nas áreas da contratação pública.

Estas declarações vêm na sequência de uma crítica da atual PGR, Lucília Gago que, após o alerta deixado por Joana Marques Vidal, disse que “no passado recente, tal como no passado mais remoto, as investigações realizadas deixaram evidente que existem nichos de corrupção nos vários níveis do aparelho de Estado”.

Lucília Gago considerou que globalmente as declarações de Joana Marques Vidal no programa Em Nome da Lei, da Renascença, não trazem novidades sobre os avanços da corrupção em Portugal. “Ela existe e é um dos grandes desafios da investigação criminal”, disse Lucília Gago.

Joana Marques Vidal, que falava à margem de um debate que decorreu na Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (Sedes), adiantou que isso não significa necessariamente um aumento da corrupção, mas revela que existe na sociedade mais atenção a esse problema.

Sobre a corrupção, afirmou aos jornalistas que "basta olhar para os processos que têm vindo a lume".

"É uma análise sociológica e criminal da realidade dos factos, não estou a inventar nada, aliás o senhor Presidente da República falou sobre o mesmo, o senhor general Eanes também, muita gente fala sobre aquilo que é o sistema de corrupção em Portugal", declarou.

A antiga PGR adiantou que "não disse nada de novo que não tivessem já ouvido".

"De uma forma mais elaborada, a senhora ministra também já falou sobre o mesmo. Não é nada de novo, já foi dito 500 vezes por muita gente. A análise que eu faço decorre dos dados que estão em cima da mesa. Não há dados sobre se a corrupção aumentou ou não, pessoalmente até admito que não tenha aumentado, só que neste momento é mais conhecida", disse.

Atualmente, acrescentou, "o número de casos que vêm a lume é maior, porque há mais condições de divulgação, o cidadão não tolera, há muito mais denúncias e havendo muito mais denúncias há muito mais processos, mas isso não significa que haja mais corrupção".

Joana Marques Vidal destacou que hoje "as regras são mais claras e mais seguidas do que eram antigamente", acrescentando que lhe "faltam também estudos científicos e académicos sobre a corrupção".

"Vim agora fazer estas intervenções de uma forma mais intensiva por considerar que a alteração do Ministério Público e as propostas que foram efetuadas - não é a proposta do governo, porque com essa na generalidade concordo -- outras propostas poderiam por em causa a autonomia e ao pôr em causa a autonomia punha em causa aquilo que eu defendo para a estrutura do Estado de Direito Democrático", disse, lembrando que não tinha feito intervenções públicas desde que saiu da PGR.

"Foi isso que me levou a vir publicamente ter uma visível participação na discussão pública. Nada mais do que isso", concluiu.

Fonte: Rádio Renascença