OCDE. Trabalho precário disparou em Portugal e está a penalizar acima de tudo os jovens
Portugal foi o quarto país com o maior crescimento de contratos precários e é onde as hipóteses dos jovens bem qualificados terem um bom salário mais encolheram.
O número de trabalhadores precários disparou em Portugal e está a penalizar sobretudo os jovens, revela o último relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) sobre o Emprego , o “Employment Outlook 2019”, publicado esta quinta feira. O país é apontado como um dos que paga pior aos jovens mais qualificados.
Portugal surge como o quarto país com o maior crescimento dos contratos a termo, só ultrapassado pela República Checa, Espanha e Polónia. Esta é uma tendência registada em cerca de metade dos países da OCDE e que já começou antes da crise.
Já o trabalho em part-time, apesar de estar a aumentar, está abaixo da média da OCDE e, ao contrário do que acontece na generalidade dos países analisados, em Portugal é involuntário e muitas vezes está relacionado com a crise.
Salários não acompanham qualificações
Os trabalhadores qualificados estão a aumentar mas os salários não acompanham esta subida, em vez disso, há mais funcionários a receberem ordenados médios.
Em Portugal, entre 2007 e 2016 subiram os baixos salários (menos de dois terços do ordenado médio). Em 2016, em média 21% dos empregos eram bem pagos, relativamente à media salarial de cada país.
Portugal é um dos países que paga pior aos jovens mais qualificados
Em 2016, em media, era maior a probabilidade dos jovens trabalhadores com mais habilitações conseguirem baixos salários (21%) do que serem bem remunerados (14,5%). Dez anos depois, em 13 países, o emprego criado reforçou o pagamento de baixos salários, com Portugal em destaque, como o país onde a probabilidade de serem pagos salários precários mais subiu.
Apenas num país da OCDE as empresas estão disponíveis a pagarem salários elevados, o Luxemburgo.
Apesar do elevado número de greves que se têm repetido no país, Portugal surge abaixo da média, em número de trabalhadores sindicalizados. Só os trabalhadores precários ficam ligeiramente acima da média da Organização.
Em Portugal é difícil regressar ao trabalho, depois de dispensado por desadequação tecnológica
Há países, como a Finlândia e a Suécia, onde 90% dos que perdem o emprego por motivos tecnológicos encontram novas colocações no espaço de um ano. Já em Portugal e França, só 30% conseguem ser recolocados num ano.
A OCDE alerta para o rápido envelhecimento da população, que está a marcar a transformação do mercado de trabalho, e que constitui um desafio acentuado, sobretudo em seis países: Portugal, Grécia, Itália, Coreia, Japão e Espanha.
Com a evolução da tecnologia o futuro do mercado de trabalho é uma incógnita, mas não pode servir de desculpa para adiar as reformas necessárias ao nível da proteção social. Há países que não estão preparados para as mudanças que se aproximam. Por outro lado, os sistemas de proteção social instalados, desenhados como resposta às formas tradicionais de emprego, têm que se adaptar às novas circunstâncias, como a diversidade do trabalho precário.
O “rendimento básico universal” não é solução
Em Portugal, entre 40% a 50% dos trabalhadores independentes, a recibos verdes ou em part-time, que ficam desempregados, arriscam-se a ficarem sem apoio. Por outro lado, Portugal é um dos países onde os trabalhadores independentes contribuem menos para a reforma, descontam cerca de um quarto a menos do que os trabalhadores por conta de outrem.
Soluções como um rendimento básico universal são desencorajadas pela OCDE, porque “podem ser contraprodutivas, ao desviarem a atenção de reformas positivas que os países podem realizar, num contexto de estratégias de proteção social”.
Fonte: Rádio Renascença
Foto: Marília Freitas/RR