BES e BPI dão prémios aos trabalhadores ainda este ano e evitam aumento de impostos
O BES e o BPI vão distribuir prémios aos funcionários até final deste ano e, assim, evitar a maior carga fiscal do próximo ano trazida pelo Orçamento do Estado, segundo informações recolhidas junto de representantes dos trabalhadores.
Depois na semana passada ter sido conhecido que o BES iria pagar aos trabalhadores, em dezembro, um "prémio extraordinário" correspondente a 75% do salário, também a administração do BPI já aprovou o pagamento das remunerações variáveis até ao final do ano.
Segundo explicou à Lusa o coordenador da Comissão de Trabalhadores (CT) do BPI, António Oliveira Alves, esta decisão está apenas pendente do aval do presidente do Conselho de Administração e fundador do banco, Artur Santos Silva.
"A informação que nos foi dada é que [esta decisão] tem por objetivo não ver englobado [esse prémio] no aumento do IRS de 2013", disse o responsável, que considera positivo o banco "encontrar soluções para os trabalhadores enfrentarem da melhor forma o aumento do custo de vida e a diminuição real dos salários".
Ainda assim, acrescentou que gostaria que a Comissão Executiva do banco, liderada por Fernando Ulrich, também implementasse outras medidas para ajudar os funcionários, tendo em conta que para a maioria dos trabalhadores do BPI a remuneração variável não chega a metade do salário e em 30% dos casos não ultrapassa os 300 euros.
No BES, tal como a Lusa noticiou na sexta-feira, a informação sobre o pagamento dos prémios foi prestada aos funcionários através de uma nota assinada pelo presidente do banco, Ricardo Salgado.
Rute Pires, da comissão sindical do Sindicato dos Trabalhadores da Actividade Financeira (SINTAF) no grupo BES, disse à Lusa que tem sido habitual o banco fazer a distribuição de lucros pelos trabalhadores em duas fases: em março e em setembro.
"Fazer nesta altura será mais por questões fiscais", adiantou a dirigente sindical, que considera que a medida beneficia os trabalhadores que conseguem escapar deste modo a maiores taxas no IRS [Imposto sobre Rendimento de Pessoas Singulares] em 2013.
No entanto, Rute Pires sublinhou que o pagamento extra do correspondente a 75% do salário "não é para todos", já que depende do "absentismo, da avaliação de desempenho" de cada colaborador, além de que os "75% [de prémio] são o máximo" aplicável.
O BES e o BPI deverão fechar este ano com lucros, depois dos prejuízos históricos de 2011. O banco liderado por Ricardo Salgado registou lucros de 90,4 milhões de euros até setembro, menos 47,4% do que no mesmo período de 2011. Já a instituição presidida por Fernando Ulrich teve resultados de 117,1 milhões de euros, mais 15,3% face ao período homólogo.
A Lusa contactou estes bancos sobre o tema, mas sem sucesso.
Quanto aos outros bancos, apenas o Santander Totta deverá fazer a "distribuição normal de incentivos", segundo Manuel Pereira da Comissão de Trabalhadores do banco, que não conhece para já qualquer intenção de antecipar estes prémios.
Já o BCP e a Caixa Geral de Depósitos (CGD), que em 2012 deverão fechar com prejuízos pelo segundo ano consecutivo, não deverão distribuir prémios.
O membro da Comissão de Trabalhadores do BCP Eduardo Ferreira afirmou que esta questão "não preocupa os trabalhadores", que estão neste momento a passar por um processo de rescisões. O banco quer chegar ao final do ano com menos 600 colaboradores.
Na CGD, a representante da Comissão de Trabalhadores (CT) Palmira Areal considerou "justo que os outros colegas bancários" recebam prémios, mas considerou também que é "extremamente injusto" que bancos privados que recorreram a dinheiros públicos os distribuam, enquanto os "trabalhadores da CGD tiveram este ano menos três vencimentos", com os cortes nos subsídios de férias, de Natal e no prémio de avaliação de desempenho.
Por fim, no Montepio, pelo menos para já, "não está previsto os trabalhadores receberem nada", afirmou à Lusa Carlos Areal, membro da CT da associação mutualista.
Fonte: Jornal de Notícias