Caso da escuta parece ameaça do poder judicial a Passos
A violação do segredo de justiça no processo Monte Branco, no qual o primeiro-ministro foi escutado, aparenta ser uma ameaça do poder judicial a Passos Coelho, disse hoje à Lusa o bastonário da Ordem dos Advogados
"Tem todo o aspeto de ser um sinal, uma ameaça que a corporação judiciária dirige ao primeiro-ministro, num momento em que o Governo está a tomar medidas muito desagradáveis", sustentou Marinho Pinto, à entrada para uma conferência em Pombal.
"É bom que o poder judicial se reduza apenas às suas funções institucionais e deixe a política para quem é político e para quem se submete ao veredito popular", aconselhou o bastonário.
Na segunda-feira, a ministra da Justiça disse compreender que o primeiro-ministro tenha pedido a divulgação das gravações em que foi escutado no caso Monte Branco, para provar a sua inocência.
Paula Teixeira da Cruz lamentou a violação do segredo de justiça no caso Monte Branco e referiu a necessidade de rever a legislação em vigor.
"Eu lamento é que, ao fim de mais de um ano de Governo, só agora a senhora ministra da Justiça tenha falado nisso, quando o fogo chegou ao líder do seu partido, ao líder do Governo", criticou Marinho Pinto.
O bastonário expressou-se ainda pouco convicto de que o inquérito à violação do segredo de justiça instaurado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) tenha resultados práticos, uma vez que "quem vai investigar são os próprios magistrados e os próprios polícias que são os principais suspeitos de praticar o crime".
A PGR esclareceu, também na segunda-feira, que não existem quaisquer suspeitas de ilícitos criminais nos autos relativos às escutas do processo Monte Branco, nas conversas em que participa o primeiro-ministro.
"Relativamente ao senhor primeiro-ministro, doutor Pedro Passos Coelho, não existem nos autos quaisquer suspeitas da prática de ilícitos de natureza criminal", pode ler-se num comunicado assinado pela Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal.
Na opinião de Marinho Pinto, "a pressa em desmentir, por parte do responsável do Ministério Público, cheira a excesso de zelo".
Apesar de "nada indiciar que haja qualquer envolvimento por parte do primeiro-ministro", o bastonário lembrou que pertence a uma geração que pensa que não se deve acreditar em nada até ser oficialmente desmentido
"Portanto, como se veio desmentir (...), é sinal de que, se calhar, é mais preocupante do que à primeira vista parecia ser e, se calhar, devemos ter dúvidas", defendeu.
Fonte: Diário de Notícias