Marcelo não se recandidatará se voltar a correr tudo mal na época de incêndios

O Presidente da República afasta a corrida a um segundo mandato, caso se repitam os cenários de tragédia como os ocorridos no ano passado. Disse-o em entrevista ao “Público” e à “Renascença”, sem esclarecer se teve acesso ao relatório da Autoridade Nacional de Protecção Civil

Caso o cenário dantesco da época de incêndios de 2017 se volte a repetir, Marcelo Rebelo de Sousa não demitirá o Governo, mas tirará consequências sobre o seu mandato presidencial. Em entrevista ao “Público” e à “Renascença”, esta terça-feira, o Presidente da República foi claro: “Voltasse a correr mal o que correu mal no ano passado, nos anos que vão até ao fim do meu mandato, isso seria, só por si, no meu espírito, impeditivo de uma recandidatura”.

Questionado, na mesma entrevista, se tivera acesso ao relatório da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) sobre Pedrógão Grande, que veio a público na semana passada, Marcelo não se descoseu (ou fez queixas do Governo) e optou por uma retórica conciliadora.

“Estamos em véspera de transição da Primavera para o Verão, que coincide normalmente com a época mais complexa em termos de incêndios. Portanto, tal como noutras circunstâncias em véspera de desafios, o que temos de fazer não é estar a mostrar preocupações, ou apreensões, dúvidas, agora trata-se de mobilizar vontades, de ultrapassar divergências e de canalizar esforços para o grande objetivo, que é o de evitar que se repitam as tragédias do ano passado”, afirma.

MONTEPIO E A BANCA
A situação da banca evoluiu “consideravelmente” desde que Marcelo Rebelo de Sousa tornou-se Presidente da República. De 2016 para cá, “não há comparação”.

“Houve meses – eu durmo pouco, mas durmo ainda algumas horas – em que dormi um bocadinho menos bem, não porque houvesse riscos na vida dos portugueses, mas porque havia vários nós górdios que era preciso resolver. E estava difícil de resolver”, explica o Presidente.

Confrontado com a afirmação de Mário Centeno sobre o Universo Montepio - “Se formos chamados a ajudar o Montepio temos de estar disponíveis” - de há duas semanas, Marcelo não se quis pronunciar. Que haja um um processo de “intervenção de quem é competente para intervir”, disse.

“Vamos esperar para ver, obviamente que o senhor ministro das Finanças tem um papel muito importante, o senhor governador do Banco de Portugal tem um papel muito importante, há várias entidades que são muito importantes nessa matéria. Os próprios têm um papel decisivo. Portanto, o Presidente da República deve ter o recato de não se pronunciar sobre uma matéria em que não deve fazer nenhum tipo de pronúncia”, afirma.

Fonte: Expresso