Acelerar investigações de corrupção? Juízes respondem: "Só investigando mal"

O sindicato que representa os juízes responde assim às declarações de Marcelo Rebelo de Sousa, que pediu mais rapidez no sistema judicial em relação aos casos de corrupção.

A Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) avisa que a Justiça nem sempre pode ser acelerada, em reação à preocupação do Presidente da República quanto à lentidão do sistema judicial.

Em entrevista ao jornal Público e à Rádio Renascença, Marcelo Rebelo de Sousa classificou como "crítica" a situação da Justiça em Portugal. Marcelo Rebelo de Sousa defendeu a renovação do sistema judicial, para acelerar a Justiça nos casos de corrupção, porque, considera o presidente, é o próprio "Estado de Direito democrático" que está em risco.

Em declarações à TSF, Manuel Ramos Soares, presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, salienta que nem todos os processos são demorados e que para os casos mais complexos é preciso tempo, sob pena de serem cometidos erros.

"É claro que era desejável que as investigações destes crimes não demorassem mais que um ou dois anos", admitiu o representante dos juízes. "Mas acho que todos temos que aceitar que, em certos casos, isso não é possível", acrescentou.

"Só há duas maneiras de acelerar muito estas investigações: investigar mal ou não respeitar os direitos dos investigados. Penso que nem uma nem outra solução são boas", declarou Manuel Ramos Soares.

Já o bastonário da Ordem dos Advogados, Guilherme Figueiredo, considera que as declarações do Presidente da República são uma "chamada de atenção importantíssima".

"É importante criar condições para que as coisas possam ter uma demora muito inferior", defendeu o bastonário dos advogados.

Ouvido pela TSF, Guilherme Figueiredo fez ainda questão de sublinhar que, nos tempos atuais, a Justiça passa muito também pelo espaço público, com os media a ocupar uma posição determinante.

"No espaço público, existe uma presunção da culpabilidade e não da inocência, enquanto no espaço judiciário o que existe é uma presunção de inocência e não de culpabilidade. Isto altera tudo", defendeu o advogado, que acrescenta ainda que tudo acontece de forma "muito rápida, fugaz".

Fonte: TSF