Juiz jubilado considera cortes de salários e pensões inconstitucionais

O juiz conselheiro jubilado Guilherme da Fonseca defendeu, esta segunda-feira, que "algumas" medidas do Orçamento do Estado para 2013 devem ser consideradas inconstitucionais, nomeadamente ao nível do corte das remunerações dos trabalhadores e das pensões.

"Pessoalmente, aceito melhor a inconstitucionalidade do que a conformidade com a Constituição, pelo menos de algumas medidas, aquelas mais violentas [como] os cortes nos salários e nas pensões, a contribuição extraordinária de solidariedade [e] o IRS, tal como está lançado este ano", afirmou à Lusa Guilherme da Fonseca.

O juiz jubilado recordou o parecer que a estrutura sindical da CGTP enviou, em dezembro, ao presidente Cavaco Silva, no qual identificava inconstitucionalidades, nomeadamente ao nível do corte das remunerações dos trabalhadores e das pensões.

Questionado sobre se algumas medidas do Orçamento do Estado deveriam ser declaradas inconstitucionais respondeu: "sim".

"Não acredito que todas elas [questões], que foram levantadas pelos requerentes, sejam objeto de um julgamento de inconstitucionalidade. Mas algumas delas, espero bem que sejam", acrescentou.

Caso isso aconteça, Guilherme da Fonseca diz que "o Governo é que tem de 'descalçar a bota'" e encontrar medidas alternativas.

O Clube dos Fenianos Portuenses, no Porto, será palco, na terça-feira, de um debate intitulado "Em defesa da Constituição de Abril" e o juiz conselheiro jubilidado enviará aos participantes uma comunicação escrita.

"O que vou querer dizer [nesse texto] é que a Constituição tem que ser defendida, tem de estar bem viva e é, portanto, um instrumento para um governo progressista e patriótico, no sentido de tomar as medidas legislativas e executivas que sejam melhor para os cidadãos", avançou à Lusa.

Assinalou, porém, como "há quem diga que ela [Constituição] muitas vezes é esquecida, posta de lado, pelo atual governo".

Aos cidadãos cabe o dever de "estar de olho aberto" e de acionar os mecanismos fiscalizadores, alertando o procurador-geral, o provedor de justiça ou os deputados, quando sejam atingidos nos seus direitos ou quando vejam medidas legislativas que violem a Constituição.

No dia em que se comemora o 37.º aniversário da promulgação da Constituição da República, o debate do Porto contará com a participação do jornalista Alfredo Maia, da investigadora Dora Fonseca, do historiador e professor universitário Manuel Loff e do escritor Mário Cláudio.


Fonte: Jornal de Negócios