Europa fecha resgate grego após epopeia negocial de 14 horas
Privados perdem 53,5% dos valores iniciais, Bancos centrais abdicam de lucros na dívida, juros do primeiro resgate recuam.
Depois de uma epopeia negocial de 14 horas, os ministros do euro selaram o segundo resgate à Grécia de 130 mil milhões de euros, obrigando, num esforço de última hora, os credores privados a elevar as suas perdas. Já passavam das cinco da madrugada em Bruxelas, quando o presidente do Eurogrupo, Jean Claude Juncker, anunciava que os credores privados tinham aceitado perder 53,5% do valor inicial dos seus títulos de divida grega, em vez de 50%.
"Atingimos um acordo de grande alcance com o novo programa da Grécia e com a participação do sector privados que vai conduzir a uma redução significativa da dívida e traçar o caminho para um financiamento publico sem precedentes que permitirá segurar o futuro da Grécia no euro", disse Juncker. O grande enfoque durante toda a noite foi "colocar as finanças públicas e a economia grega novamente numa base sustentável", frisou. Essa base resulta de uma projecção actual de uma dívida de 120,5% do PIB em 2020. Era esse o objectivo central deste exercício político porque era esse o nível em que se determinava que a dívida grega voltaria a ser sustentável. Relatos do encontro notam que Berlim e Haia obrigaram os gregos a suspender as negociações por quatro vezes e a arrancar novas concessões dos privados.
Para isso, também contribuirá um maior esforço das autoridades públicas: os governos do euro também elevaram a sua contribuição, reduzindo a taxa de juro do primeiro resgate à Grécia e os bancos centrais também irão abdicar de cobrar lucros com títulos gregos em caixa. Neste sentido, o BCE aceitou distribuir pelos bancos centrais nacionais os dividendos que obteria com os seus 40 mil milhões de dívida grega. Os bancos centrais por seu turno abdicariam de cobrar a parcela de lucro destes activos, bem como dos 12 mil milhões em obrigações gregas que se estima estejam nos cofres nacionais.
No caso dos juros do primeiro resgate, que serão reduzidos em 0,5 pontos ao longo dos próximos cinco anos e 1,5 pontos nos anos seguintes, não se afasta a opção que em certos países este nível de juros efectivos fique abaixo do que os próprios países conseguem obter no mercado.
Presente na conferência de imprensa final, Christine Lagarde, do FMI, não se comprometeu com um nível de contribuição do fundo para os 130 mil milhões, notando apenas que será "significativa". Lagarde não confirmou o valor de 13 mil milhões que foi ventilado na imprensa norte americana e que fica muito aquém da parcela de um terço que o FMI costuma assumir.
Muitos detalhes do acordo permanecem nesta fase por explicar. Certo é que será destacado para Atenas um grupo permanente de técnicos para assegurar que o país vai cumprindo o acordo, bem como será constituída uma conta separada com parte do resgate para garantir o pagamento a credores privados.
Olli Rehn, o comissário do euro, confessou que em Bruxelas tinham "subestimado os desafios políticos na Grécia e a falta de unidade política" no país. Mas deu o exemplo de Portugal e Irlanda para indicar esperança notando que estes programas "estão no bom caminho" e a ajudar estes países.
Diário Económico