Coronavírus: directores sugerem que férias da Páscoa sejam antecipadas
Medida já foi sugerida ao ministro da Educação para evitar que a infecção “não propague como cogumelos” nas escolas.
Com as escolas em “desassossego” devido à progressão da infecção covid-19, são cada vez mais os directores a defender que o Ministério da Educação deveria antecipar em 15 dias o início das férias da Páscoa, que está marcado para 28 de Março. Caso se concretize esta proposta, as escolas encerrariam já na próxima sexta-feira, dia 13.
“Deste modo talvez se possa evitar que a infecção se propague nas escolas como cogumelos, que provavelmente é o que acontecerá caso permaneçam abertas”, justifica o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira, que neste domingo sugeriu a adopção desta medida ao ministro da Educação. Questionado pelo PÚBLICO, o ministério não respondeu.
Manuel Pereira, que tem estado em contacto com muitos outros directores de todo o país, frisa ainda que a antecipação das férias da Páscoa permitira tratar “todas as escolas em pé de igualdade” em vez de se estar a fechar uma ou outra, como tem acontecido até agora.
O presidente da ANDE conta a propósito que tem falado “com muitos colegas italianos, que estão em estado de choque”: “Dizem-nos que ou paramos no início ou que nos vai acontecer o mesmo que em Itália”. E a verdade, adianta, é que por cá as escolas “estão a viver em desassossego, assustadas” com a progressão da infecção, até porque não existe quase mais nenhum local por onde todos os dias passem tantas pessoas como acontece nos estabelecimentos escolares, onde se cruzam alunos, professores, funcionários e pais.
Manuel Pereira garante, por outro lado, que a antecipação das férias da Páscoa não iria “prejudicar ninguém”, já que existem formas de recuperar conteúdos em falta e os testes que ficariam por realizar.
Todos os empregadores públicos, incluindo as escolas, deveriam ter entregue até hoje os seus planos contingência para conter a infecção. O prazo foi estipulado pelo Governo num despacho publicado na semana passada, onde se previa também a suspensão do funcionamento de cantinas e outros espaços de uso comum nas escolas.
A meio gás
Em pouco mais de 24 horas, dezenas de instituições de ensino de Norte a Sul do país anunciaram medidas mais apertadas para tentar conter um surto ainda mais abrangente do novo coronavírus. Estas acções, algumas ainda sem prazo para terminarem, passam principalmente pela suspensão de aulas e pelo encerramento ou condicionamento do acesso a edifícios escolares.
Este domingo, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) anunciou que todas as escolas dos dois concelhos portugueses mais afectados pela covid-19, Lousada e Felgueiras, no distrito do Porto, seriam encerradas.
Também na região do Porto, a Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Politécnico fechou por tempo indeterminado “todas as instalações onde decorrem aulas”, incluindo Amarante e Penafiel, no distrito do Porto, além de Felgueiras e Lousada.
O Conselho Nacional de Escolas Médicas decidiu fechar as portas de todas as faculdades de medicina do país, medida que afecta mais de 12 mil estudantes. A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto já tinha anunciado que todos os seus estudantes estavam interditados de circular no edifício do Hospital de São João. As instalações partilhadas do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar e da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto vão permanecer encerradas até 20 de Março.
Ontem foi também anunciado que a Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário (CESPU), que gere o Instituto Universitário de Ciências da Saúde, em Gandra, no distrito do Porto, e o Instituto Politécnico de Saúde do Norte (que integra a Escola Superior de Saúde do Vale do Ave, em Vila Nova de Famalicão, e a Escola Superior de Saúde do Vale do Sousa, também em Gandra, ia suspender todas as aulas e encerrar a maior parte dos seus espaços.
A Escola Superior de Enfermagem do Porto (ESEP) avançou que ia suspender “todas as actividades de ensino clínico/estágio” dos cursos, a partir de ontem e por tempo indeterminado. O ISCE Douro foi outras das instituições da região Norte a rever a sua actividade lectiva durante as próximas 2 semanas. “Entre hoje e até ao próximo dia 23 de Março, o nosso Instituto, irá apenas ministrar aulas à distância (bem como as respectivas tutorias), suspendendo as aulas presenciais”, referiu a instituição em comunicado.
No distrito de Vila Real, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, decidiu suspender eventos e actividades desportivas da responsabilidade da academia, bem como as deslocações em serviço para países afectados pelo surto de covid-19.
Na Universidade do Minho, cerca de 90 estudantes estão em quarentena profiláctica voluntária nas residências da academia em Braga, por terem estado em contacto com um aluno infectado com o novo coronavírus. Também no distrito de Braga, o Instituto de Estudos Superiores de Fafe fechou ontem as instalações e suspendeu actividades presenciais pelo menos por duas semanas, por razões preventivas, numa medida que abrange 900 alunos.
A par com outras instituições de ensino, a Universidade de Coimbra vai suspender todas as aulas. Já a Universidade Nova de Lisboa anunciou medidas mais apertadas para conter um possível surto, entre estas suspender reuniões científicas públicas com mais de 50 pessoas e com participantes provenientes do estrangeiro, adiar eventos públicos não científicos no perímetro da universidade e ainda reduzir a frequência de pessoas em cantinas e residências “ao mínimo possível”.
A Universidade de Lisboa avançou com uma série de medidas para “contenção da propagação do vírus”, entre estas a suspensão das actividades lectivas presenciais e das bibliotecas, salas de estudo e dos refeitórios. Além disso, e segundo anunciou a instituição com 59 mil alunos em comunicado, “as actividades físicas e desportivas, realizadas nas instalações do Estádio Universitário e das escolas, são suspensas, nomeadamente as que decorram em recintos fechados, ou mantidas com restrições”.
Na Amadora, duas escolas estarão fechadas até 20 de Março. A decisão foi tomada depois de terem sido identificados dois novos casos de infecção: um na Escola Secundária da Amadora (ESA) e outro na Escola Básica 2,3 Roque Gameiro.
Em Portimão, no distrito de Faro, dois estabelecimentos de ensino estão fechados: a Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes, onde uma aluna foi diagnosticada com covid-19, e a Escola Básica Professor José Buisel, onde lecciona a mãe da aluna doente, também infectada.
Também a Universidade dos Açores (com pólos em São Miguel, Terceira e Faial) decidiu adiar por “tempo indeterminado ou cancelar” os “congressos, workshops, seminários ou outros eventos públicos científicos ou culturais” em espaços da instituição. A academia proibiu a entrada nas residências universitárias a qualquer pessoa que se desloque para o arquipélago proveniente de outros países e regiões sem que tenha cumprido um período de quarentena.
A Direcção-Geral de Saúde (DGS) confirmou ontem que existem 39 pessoas infectadas com o novo coronavírus em Portugal e que 339 casos suspeitos aguardam os resultados laboratoriais.
Fonte: Público