Espanha e Portugal querem partilhar informações sobre criminalidade com a América Latina

Primeira reunião ibero-americana de ministros da Administração Interna serviu para propor um sistema comum de estatísticas para o crime e para avançar com uma cooperação maior no desmantelamento da ETA

Os ministros da Administração Interna da comunidade ibérico-americana, formada por 22 países, puseram-se de acordo esta terça-feira num encontro em Valência e avançaram com uma declaração conjunta para avançar com uma estratégia de cooperação internacional entre as polícias dos dois lados do Oceano Atlântico.

Batizada com o nome da cidade onde a reunião teve lugar, a declaração assinada pelo ministro da Administração Interna português, Miguel Macedo, o ministro do Interior Espanhol, Jorge Fernández Díaz, e representantes de mais 20 países da América Latina. é encarada como um primeiro passo para tentar agilizar a ajuda mútua e a troca de experiências entre as forças policiais, com o objetivo de travar a crescente internacionalização do crime organizado e do terrorismo no espaço de língua portuguesa e língua espanhola.

Na declaração de Valência, os responsáveis pela segurança interna defendem, em bloco, criar um grupo de trabalho - o grupo de Cádis - para fundar um sistema ibero-americano de informação e investigação, bem como um mecanismo de harmonização de estatísticas. A intenção é "compatibilizar os critérios de recompilação e tratamento de dados fiáveis relacionados com a criminalidade", com o objecivo de comparar as diferentes realidades dos vários país de forma mais precisa, e também promover trocas de conhecimento tecnológico e ações conjuntas de formação.

Disponibilidade total na luta anticrime


Mas o mais importante, pelo menos para o Governo espanhol, empenhado em levar até ao fim o desmantelamento da ETA e a captura ou extradição dos membros da organização terrorista que continuam em liberdade, é a disponibilidade assumida por todos os 22 países para serem adotados acordos para uma "ação efetiva conjunta" contra a criminalidade grave, incluindo o narcotráfico e o terrorismo.

Como frisava o ministro do Interior espanhol numa conferência de imprensa, no final da sessão de trabalhos, o mais importante "é que esta é a primeira reunião do género" a acontecer nos mais de 20 anos de história de cimeiras ibero-americanas. O que significa também que há muitos passos para serem dados antes que a cooperação se torne eficaz.

Para já, porque a declaração terá ainda de passar pelo crivo dos chefes de Estado e de Governo, na próxima Cimeira Ibero-Americana, agendada para 17 e 18 de novembro em Cádis. E depois porque, embora isso não seja dito publicamente, existem países considerados mais 'complicados' na cooperação de combate contra a ETA. Existem ainda 70 a 80 etarras em liberdade no México, na Venezuela, em Cuba e no Uruguai.

Cooperação exemplar em Óbidos


Coube ao ministro Miguel Macedo inaugurar a sessão de trabalhos, que decorreu à porta fechada, com uma apresentação sobre a cooperação institucional na luta contra o crime organizado. Não foi por acaso. Ao longo do encontro de dois dias, que terminou esta terça-feira, foram constantes os elogios ao papel desempenhado por Portugal na luta antiterrorista, encarado como um exemplo de boa vontade e eficácia, ao ter desmantelado uma base da ETA em Óbidos em 2010, numa operação classificada como essencial pelas autoridades espanholas para colocar um ponto final na capacidade logística da organização terrorista basca.

"Foi a última tentativa séria da ETA, ao trabalhar em segredo para transferir o seu santuário em França para Portugal", explicou ao Expresso Diego Orihuel, diretor do Gabinete de Coordenação e Estudos da Secretaria de Estado da Segurança espanhola. "Seríamos apanhados de surpresa, se essa operação não tivesse corrido bem".

Fonte: Expresso