Tarifas: plano nacional de 2,5 mil milhões de euros para mitigar impacto

Governo em silêncio sobre o valor do apoio para os setores mais afetados pelas decisões de Trump. Plano deverá ser aprovado em Conselho de Ministros, mas há dúvida sobre o valor avançado pela AEP.

Terminou esta quarta-feira a ronda de dois dias que o ministro da Economia levou a cabo com os vários setores para perceber de que forma as chamadas tarifas recíprocas anunciadas por Donald Trump vão impactar a atividade. E, durante a manhã, já havia um número a circular: o presidente do conselho de administração da Associação Empresarial de Portugal (AEP), Luís Miguel Ribeiro, que esteve reunido com Pedro Reis na terça-feira, avançou, à saída do encontro, que os apoios às empresas nacionais poderão ascender a 2,5 mil milhões de euros.

“As preocupações do Governo são em tudo semelhantes às apresentadas pela AEP”, referiu entretanto citado pelo Jornal Económico, acrescentando que o plano de combate do Executivo ainda em funções está organizada por quatro áreas de atuação diferente. O primeiro prende-se com garantias do Banco de Fomento através do plano Invest EU; em segundo lugar, uma linha de financiamento, do mesmo Banco de Fomento, para as empresas exportadoras; em terceiro lugar, o reforço dos plafonds dos seguros de crédito e, segundo Luís Miguel Ribeiro, haverá ainda um foco maior nas linhas 2030 de apoio à internacionalização. E sobre isto, vale a pena ler o texto da página anterior, sobre as dificuldades que as organizações estão a ter para, precisamente, aceder a este mecanismo.

Assim, e contas feitas a estas quatro áreas de atuação, o plano do Executivo é “da ordem dos 2,5 mil milhões de euros” - a que acrescerão ainda, referiu, o reavivar do programa ‘Acelerar a economia’”, diz o responsável da AEP.

O InvestEU é “um programa europeu de cariz estratégico, que proporciona à União Europeia (UE) financiamento a longo prazo para apoiar o acesso e a disponibilidade de financiamento para as empresas, fomentando a sua competitividade à escala mundial e preparando-as para o futuro”, lê-se no site da Comissão onde o programa é apresentado. “Mais importante que um plano de financiamento, é colocá-lo em prática”, disse ainda o mesmo responsável, citado pelo JE. E é aqui que pode estar uma das maiores dificuldades, uma vez que estando Portugal em plena época de campanha eleitoral, a margem de atuação do Executivo está limitada.

Contactado pelo Diário de Notícias, fonte oficial do Ministério da Economia disse apenas que não comenta o assunto, uma vez que ainda é prematuro falar de valores. Mas certo é que esta quinta-feira deverá haver uma discussão e uma proposta concreta em cima da mesa, durante a reunião de Conselho de Ministros. A dúvida é se o valor será igual ao que Luís Miguel Ribeiro avançou, ou inferior.

Na agenda da reunião está precisamente o impacto das tarifas impostas pelos EUA, que têm tido direito a resposta por parte de várias economias mundiais, e que vieram alterar significativamente aquela que era a ordem vigente até ao momento.

Durante o dia desta quarta-feira, os países da União Europeia aprovaram por maioria, em Bruxelas, a primeira ronda de tarifas à entrada dos produtos dos Estados Unidos na Europa. Os países da UE avançam para uma tarifa de 25% sobre cerca de 1700 produtos norte-americanos, numa resposta às tarifas aplicadas pelos EUA ao aço e alumínio europeus.

“A UE considera as tarifas americanas injustificadas e prejudiciais, causando prejuízos económicos a ambos os lados, bem como à economia global. A UE declarou a sua clara preferência por encontrar soluções negociadas com os EUA, que sejam equilibradas e mutuamente benéficas”, podia ler-se num comunicado. As medidas, que deverão entrar em vigor a 15 de abril, podem ser suspensas “a qualquer momento”, afirmou a UE, caso os EUA concordem com uma “solução negociada justa e equilibrada”.

Já ao final do dia, em Portugal, o presidente dos Estados Unidos revelou que irá aumentar para 125% a tarifa sobre produtos chineses. “Com base na falta de respeito que a China demonstrou aos mercados mundiais, estou a aumentar a tarifa cobrada à China pelos Estados Unidos da América para 125%, com efeito imediato”, escreveu Donald Trump na Truth Social. O republicano também disse esperar que, “num futuro próximo, a China perceba que os dias de exploração dos EUA e de outros países não são mais sustentáveis ou aceitáveis”.

Na mesma publicação, Trump anunciou que irá reduzir para 10% as taxas recíprocas a países que não retaliaram contra os EUA, durante um prazo de 90 dias, referindo-se a essa redução temporária como uma “pausa”.

Fonte: Diário de Notícias
Foto: José Coelho/LUSA