"Não conseguimos controlar." Guardas prisionais pedem alteração de código de execução de penas devido a droga sintética

A nova droga, conhecida como K4, pode ser embebida em papel e a lei proíbe os guardas prisionais de abrir alguma correspondência que chega às prisões, conta Frederico Morais à TSF

O Sindicato dos Guardas Prisionais avisa que é urgente alterar o Código de Execução de Penas, porque há uma nova droga sintética a fazer uma autentica razia nas prisões. A situação mais grave vive-se nas cadeias da Carregueira, Custóias e Paços de Ferreira, mas não só.

Em declarações à TSF, Frederico Morais, presidente do sindicato, conta que a droga conhecida como K4 atualmente é entregue pelos próprios guardas prisionais aos reclusos, já que a droga pode ser embebida em papel e a lei proíbe os guardas de abrirem alguma correspondência que chega às cadeias em envelopes falsificados.

"O Código de Execução de Penas não permite nós abrirmos alguns tipos de cartas, por exemplo, que venha do senhor Presidente da República, da Casa Civil, da Procuradoria, da provedora, de advogados e eles conseguem falsificar já os envelopes e nós não podemos abrir aquelas cartas. Ou seja, nós estamos a entregar à mão a reclusos droga, sem podermos fazer nada, porque eles conseguem embeber uma folha naquele líquido e conseguem pôr a droga a circular entre eles, porque basta só um bocadinho de papel e eles ficam completamente alucinados e nós não podemos fazer nada", explica.

Os reclusos perdem completamente a noção do que fazem: "Nós temos imagens, já temos algumas que são mesmo de Portugal, mas mais de outros países e de Inglaterra principalmente, em que eles ficam completamente alucinados. Em Portugal, já tivemos em outubro um caso em Paços de Ferreira, em que foram cinco reclusos com ataque cardíaco para o hospital no Porto, porque tinham todos consumido o K4."

Os guardas prisionais estão totalmente impotentes perante esta droga que escapa a qualquer tipo de controlo.

"Não se consegue detetar com um teste rápido. Esta droga é o sistema de ultravioleta que consegue detetá-la. Só que enquanto nós evoluímos para esse sistema, eles conseguem evoluir também para outros sistemas. Repare que ninguém diria que iríamos ter um submarino a trazer cocaína para Portugal e já temos, ou seja, eles estão muito à nossa frente, mas, lá está, nós continuamos a combater, só que este é aquela droga que nós não conseguimos mesmo combatê-la. Nós só percebemos que aquela droga está nas cadeias quando os preços estão alucinados", conta Frederico Morais.

Os estabelecimentos com mais casos estão identificados, mas é difícil combater o problema: "Temos estabelecimentos críticos. Temos a Carregueira, que temos várias vezes por semana reclusos e internados nos hospitais em Lisboa por causa da K4, temos Custóias, Paços de Ferreira e começamos a ter em Coimbra já alguma. Ou seja, isto é uma droga extremamente barata. Nós antigamente tínhamos um problema, principalmente em Custóias, os meus colegas referem isso, muitas vezes tínhamos os reclusos a fazer fila para a enfermaria para tomar metadona. Hoje temos os reclusos a fazer fila para ir para a casa de banho para consumir K4. Ou seja, é uma droga que nós não conseguimos de todo controlar. É impossível da nossa parte."

A única forma de reagir é como se vai fazendo noutros países: permitir apenas a entrada de fotocópias na cadeia e também exigir que os reclusos vistam apenas roupa da prisão, porque, tal como no papel, a K4 também pode entrar disfarçada e impercetível nos tecidos.

Fonte: TSF
Foto: Nuno Brites/Global Imagens