Estrangeiros triplicaram investimento direto no imobiliário nos últimos dez anos

Holanda e Luxemburgo estão entre os principais países de origem do investimento estrangeiro, mas os dois centros financeiros são usados também por outros países por oferecem discrição e grandes vantagens fiscais.

O Investimento Direto Estrangeiro (IDE) parqueado em Portugal (o total das chamadas posições finais ou dos stocks) aumentou mais de 55% nos últimos dez anos, ou seja, desde que terminou o programa de ajustamento da troika, entre o 1.º semestre de 2014 e igual período deste ano, indicam dados novos do Banco de Portugal, ontem divulgados. O setor que mais contribuiu para a explosão no IDE ao longo deste período foi o imobiliário, onde a entrada dos estrangeiros mais do que triplicou o valor dos investimentos em stock, agora na mão de empresas, fundos, bancos e particulares com poder de compra sediados no exterior.

Este aumento muito significativo do IDE aconteceu logo a partir de 2014, impulsionado pela desvalorização interna da economia (salários e preços em geral), que a tornou, na altura, muito mais barata e apetecível.

O conjunto dos investidores estrangeiros passou a deter ativos (capital ou dívida, porque se tornaram credores) em forma de investimento num valor patrimonial de 183,9 mil milhões de euros, mais 55% do que em 2014.

Nas atividades imobiliárias, a vaga foi enorme, qual tsunami, tendo a respetiva posição de IDE subido de 4,9 mil milhões de euros no final do 1.º semestre de 2014 para uns impressionantes 15 mil milhões de euros agora.
Desde 2014, o setor imobiliário explodiu de tal forma - puxando pelos preços das casas, do arrendamento de casas e de espaços empresariais - que passou de sexto para quarto mais importante no ranking das atividades económicas de referência do IDE, medidas pelo valor do balanço (ativo/passivo) destas operações.

Se juntarmos o setor da construção ao imobiliário, este binómio passa a ser o terceiro maior da economia em termos de IDE, avaliado num total de 18,5 mil milhões de euros, mais de 10% do total.

Quem investe?
O BdP também atualizou a base de dados relativa ao IDE detalhando os territórios das contrapartes, isto é, o valor em investimento procedente de um determinado país ou território.

Como explica o BdP, estas “estatísticas apresentadas de acordo com princípio direcional são mais adequadas para a análise das motivações do investimento direto”, embora não captem o investidores originário. Por exemplo, há países que, por serem grandes centros financeiros e por concederem grandes vantagens fiscais, acabam por aparecer no topo dos rankings dos IDE sem, de facto, serem dos maiores investidores. Além de serem plataformas giratórias que fazem circular o capital financeiro, o tipo de investimento também pode ser em ativos intangíveis em vez de ser em ativos reais.

Espanha não é um grande centro financeiro, mas é, atualmente, o principal investidor estrangeiro em Portugal, com interesses avaliados em quase 37 mil milhões de euros, 20% do IDE total existente em Portugal.

Mas por exemplo, em segundo, aparecem os Países Baixos, um centro financeiro que oferece grandes vantagens fiscais (veja-se o sem número de empresas portuguesas com sede na Holanda), com um valor em IDE na ordem dos 35,7 mil milhões de euros. O Luxemburgo, outro centro financeiro de grande calibre, surge em terceiro, com 33 mil milhões de euros. Juntos, estes dois países têm quase 40% do IDE em Portugal.

Contudo, o banco central mostra que o dinheiro até pode vir daí, mas que os investidores originais podem estar noutro ponto do globo e bem diferente. É o caso exemplar da China. Embora tenha originado 3,8 mil milhões de euros em investimentos em Portugal em 2023, a verdade é que o país é muito mais importante como investidor do que parece.

Segundo o BdP, usando o critério do território de origem efetiva e beneficiário final do investimento, a China é responsável por ativos no valor de 12,4 mil milhões de euros em Portugal. Ou seja, mais do triplo do que aparece na primeira estatística. Significa isto que houve quase nove mil milhões de euros em IDE chinês que entrou em Portugal por outras vias que não diretamente da China.

Fonte: Diário de Notícas
Foto: Jorge Amaral / Global Imagens