Marcelo remete responsabilização política sobre fogos para depois da época de incêndios
O Presidente da República foi à ANEPC com o ministro da Administração Interna para não destoar do Governo: apuramento de responsabilidades só depois do estudo e do relatório encomendado pelo MAI. No mesmo dia em que o líder do PSD fez críticas à desresponsabilização do Governo, Marcelo disse que há "uma preparação cabal das forças no terreno"
O Presidente da República foi à ANEPC com o ministro da Administração Interna para não destoar do Governo: apuramento de responsabilidades só depois do estudo e do relatório encomendado pelo MAI. No mesmo dia em que o líder do PSD fez críticas à desresponsabilização do Governo, Marcelo disse que há "uma preparação cabal das forças no terreno"
Questionado sobre o apuramento de responsabilidades políticas na sequência das críticas de falta de meios e de coordenação, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu que, "como acontece sempre quando há campanhas, é no fim destas campanhas" que se faz esse tipo de avaliação. "Não é durante as campanhas, durante as guerras que se faz esse tipo de apuramentos".
Quaisquer conclusões, só depois do estudo pedido pelo MAI aos peritos da Comissão Nacional para a Gestão Integrada de Fogos Rurais sobre estes grandes fogos. "Como imagina", prosseguiu Marcelo, "no caso da Serra da Estrela já foi anunciado que haverá um relatório e um apuramento dos fatores complexos que terão explicado aquilo que se passou, e que é sempre imprevisível. É sempre diferente do que se podia prever e ali não se podia prever naqueles termos", defendeu, perante os jornalistas. Mas o Expresso sabe que o Presidente tem informação e relatórios diários fornecidos pelo MAI que estabelecem uma diferença entre estes grandes fogos, "de uma geração diferente" daqueles que ocorreram, por exemplo, em Pedrógão há cinco anos.
Apesar da gravidade da situação, com quase 1% do território nacional ardido, o Presidente não pede a urgência que exigiu ao Governo na sequência das tragédias de 2017. Mas mantém a pressão, embora para uma fase posterior. "No fim das campanhas, naturalmente, vai-se olhar e ver como foi em termos absolutos e em termos relativos, em termos de vitimas, de populações atingidas, destruição material e também desse bem fundamental que é a natureza e a biodiversidade".
Mesmo com Luís Montenegro na rua a criticar a gestão do Governo - Marcelo preferia que o PSD não fizesse deste tema um cavalo de batalha - o Presidente foi redondo e evitou criticar José Luís Carneiro ou António Costa. "Pude verificar que há da parte de todas as entidades no terreno uma preparação cabal para aquilo que nos pode esperar nas próximas semanas", afirmou o chefe de Estado. Montenegro tinha afirmado poucas horas antes que ficava "apreensivo quando o Governo se tenta desresponsabilizar por tudo aquilo que corre mal".
Mas, para Marcelo, "há a noção exata de que estamos a enfrentar um desafio que é de todos, e uma unidade em termos de poder politico, envolvendo o poder político, Governo mas também aqueles que têm um protagonismo importante: os operacionais há semanas e semanas numa dedicação sem limites, e uma palavra para os autarcas que têm sido inexcedíveis no terreno". Isto apesar de o Expresso saber que Marcelo viu com preocupação as descoordenações na Serra da Estrela entre autarcas do PSD e do PS.
O Presidente anunciou ainda que esta sexta-feira “haverá uma conferência de imprensa em que será anunciado o conjunto de medidas que se entende que são adequadas para os próximos dias e semanas. Isso deve ser visto de uma forma muito firme, mas muito serena, porque se tem a convicção de que apesar de tudo não estamos perante a situação dramática que justificou aquele apelo inicial e aquele bloco de medidas iniciais”, disse aos jornalistas no final do 'briefing' operacional na ANEPC, em Lisboa.
De acordo com o Presidente da República, se for preciso adotar mais medidas caso as circunstâncias evoluam negativamente, “quem tem de as adotar não deixará” de o fazer.
“Não vou antecipar as medidas. A função do Presidente da República não é essa, não é substituir-se a outras instâncias de poder. É ter a noção de que são as medidas adequadas, mas não tão gravosas quanto medidas mais intensas que foram adotadas quando nos encontrámos aqui da última vez”.
Fonte: Expresso
Foto: Miguel A. Lopes/ LUSA