Crime violento desceu mas nem por isso estamos mais seguros

Os roubos e sequestros baixaram em geral em 2015 mas os pequenos crimes, dos furtos às burlas subiram, segundo dados do RASI. A prevenção continua a ser essencial

Houve mais crimes participados em 2015 mas mais na esfera dos pequenos ilícitos e menos na criminalidade violenta e grave onde se incluem os roubos, sequestros e homicídios. Mas significa que os portugueses estão mais seguros? Mário Mendes, ex-secretário geral do Sistema de Segurança Interna, garante que não: "Não estamos de todo a ficar um país seguro. A criminalidade violenta e grave vai voltar a aparecer. E se sofreu uma ligeira diminuição foi porque houve grupos dos assaltos às residências e a ouriversarias que foram detidos. Agora haverá um espaço de tempo em que o fenómeno está parado para depois voltar a surgir".

Em 2015 registaram-se 18.940 queixas por crimes violentos e graves, menos 0,6% do que no anterior, segundo dados preliminares do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), a que o DN teve acesso. Esta tendência de decréscimo dos crimes que mais chocam a sociedade já se nota há dois anos, embora o relatório não integre as cifras negras, ou seja os casos em que não houve apresentação de queixas crime. Em 2014 já tinha havido uma quebra de 5,4% da criminalidade violenta e grave face a 2013 (20.147).

No geral os portugueses apresentaram 348.236 participações por crimes em 2015, um aumento de 1,3% em relação a 2014. Mas desse "bolo" 329.296 denúncias dizem respeito a pequenos crimes como furtos ou burlas.

Crime informático sobe

E há uma área que cresceu exponencialmente: o crime informático. Foram 7830 os crimes de burla informática participados em 2015, o que mostrou uma subida de 73,7% face a 2014, segundo os dados preliminares do RASI (que será apresentado oficialmente no Parlamento no final do mês). "Antigamente faziam-se assaltos à mão armada, agora fazem-se assaltos através do computador", sintetiza o coordenador de investigação criminal Carlos Dias, especialista em crime informático da Polícia Judiciária de Coimbra.

Uma das fraudes mais difíceis de combater é o abuso de cartão de garantia ou de crédito que em 2015 aumentou 54,7% face a 2014. Trata-se do acesso indevido aos números do cartão com o objetivo de fazer compras online. "A maior parte das vítimas são cidadãos nacionais", sublinha Carlos Dias.

Cuidado nos sites como o booking

"Ao fazer uma simples reserva de alojamento pelo site booking.com os utilizadores estão a facilitar a fraude pois os números do cartão de crédito vão estar acessíveis a empregados de balcão. A maioria pode ser honesta mas basta haver 5% que não é", alerta Carlos Dias. "É preferível recorrer aos sistemas que os bancos recomendam para pagamentos online como o MBNet, em que temos um cartão com o montante exato do que temos de pagar", aconselha o investigador da PJ de Coimbra.

As burlas informáticas fazem parte da criminalidade do presente e do futuro: as intrusões de sistemas podem ser feitas a partir de qualquer canto do mundo e raras vezes os lesados têm a compensação de ver os suspeitos presos ou os valores roubados recuperados.

Na lei orgânica da Polícia Judiciária já está criada a Unidade Nacional do Crime Informático.

Na PJ de Lisboa entram 90 inquéritos por mês por crimes informáticos vários, com um volume anual de quase mil processos por burlas , sextorsion , acesso ilegítimo a dados ou intrusão em sistemas.

Na Polícia Judiciária de Coimbra entram 70 inquéritos por mês por burla informática. Ao final do ano são 840 processos, o que é quase metade de todo o volume de inquéritos que entra na Diretoria do Centro da PJ (na ordem dos dois mil), como adiantou ao DN Carlos Dias. "A burla mais recorrente na nossa área territorial é mesmo o acesso indevido aos dados dos cartões de crédito".

Ainda em 2014 houve um grupo que clonou 1700 cartões bancários e realizou mais de 3800 transações fraudulentas, tendo efetuado compras avaliadas em 1,1 milhões de euros. A Unidade Nacional de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária deteve os sete elementos que compunham o bando criminoso.

Fonte: Diário de Notícias