Juros de Portugal afundam para níveis anteriores ao início da crise política

Investidores mostram agrado com opção de Cavaco Silva manter o Governo em funções até final da legislatura. Juros da dívida estão a acentuar as quedas e já atingiram mínimos desde 20 de Junho, antes dos pedidos de demissão de Vítor Gaspar e Paulo Portas.

A comunicação ao País de Cavaco Silva está a ser bem recebida nos mercados de dívida, com os juros da dívida a aliviarem em todos os prazos, encontrando-se já em mínimos de 20 de Junho, antes de ter iniciado a crise política.

Depois de terem falhado as negociações com vista a obtenção de um compromisso de salvação nacional, o Presidente da República anunciou ontem que a “melhor solução alternativa é a continuação em funções do actual Governo, com garantias reforçadas de coesão e solidez da coligação partidária até ao final da legislatura”.

Este cenário de fim de crise política a afastamento de eleições antecipadas está a ter forte impacto no mercado de dívida, apesar de ter ficado pelo caminho o compromisso de salvação nacional.

A “yield” das obrigações do tesouro a 10 anos cede 48,3 pontos base, acumulando já a terceira sessão em queda e afastando-se cada vez mais dos 8% a que chegou a tocar no posterior ao pedido de demissão de Paulo Portas. O nível atingido hoje é o mais reduzido desde 20 de Junho, tendo assim anulado o efeito negativo da crise política.

No dia 1 de Julho, quando o ministro das Finanças se demitiu, a “yield” da dívida a 10 anos fechou nos 6,394%. No dia seguinte, quando Paulo Porta apresentou a demissão, a “yield” escalou para 6,72% e nas sessões posteriores superou os 7% e atingiu mesmo a barreia dos 8%.

“Há um governo, com maioria para implementar as medidas exigidas pela Troika”, diz Filipe Silva, director da gestão de activos do Banco Carregosa, em declarações ao Negócios
As quedas estão a ser bastante intensas em todos os prazos, oscilando entre 77 pontos base (quatro anos) e 29 pontos base (dois anos). Na maturidade mais curta os juros situam-se em 4,84%, tendo quebrado a barreira dos 5%.

Nas obrigações com maturidade de cinco anos os juros recuam 71 pontos base para 5,72%, quebrando pela primeira vez em baixa, desde 3 de Julho, a barreira dos 6%. No prazo a dois a queda é menos intensa (29 pontos base), tendo quebrado em baixa a barreira dos 5%.

No mercado dos "credit default swaps" (seguros de protecção contra o incumprimento de díivda) é também visível a diminuição do risco atribuído à dívida portuguesa. Os CDS das obrigações portuguesas caem 47 pontos base para 454 pontos base. É a maior queda desde Novembro de 2012, para níveis das últimas três semanas, de acordo com a Bloomberg.

O aparente fim da crise política em Portugal está também a contribuir para aliviar os juros dos restantes países periféricos europeus. Os juros da dívida espanhola a 10 anos recuam 2 pontos base para 4,65% e em Itália a queda na mesma maturidade é igual, para 4,38%.

Goldman espera queda no “spread”

Os analistas do Goldman Sachs acreditam que a decisão de não convocação de eleições, anunciada no Domingo pelo Presidente da República, é positiva para a dívida, tendo recomendado aos clientes que queiram estar expostos a Portugal que comprem obrigações de longo prazo.

Para o Goldman Sachs, o prémio de risco que os investidores exigem para deter a dívida portuguesa em vez da alemã irá continuar a descer para uma diferença de 400 a 420 pontos base nos títulos com prazo entre 5 e 10 anos. Hoje “spread” está entre 527 pontos base (cinco anos) e 482 pontos base (10 anos).

O Citigroup acredita que a coligação entre o PSD e o CDS será difícil de manter se a evolução da economia não for ao encontro das expectativas.

“A crise política em Portugal parece estar resolvida por agora, embora a aparência de união entre os partidos da coligação seja difícil de manter, no caso de a economia continuar a decepcionar em relação às expectativas”, lê-se numa nota de research do banco norte-americano.

Fonte: Jornal de Negócios