Mourinho diz em tribunal que desconhecia contrato com Taguspark

Treinador confirma contactos para contrato publicitário mas com a PT, e por valores que "desconhecia serem praticados em Portugal".

O treinador de futebol José Mourinho afirmou nesta sexta-feira ao colectivo de juízes que julga o processo Taguspark que desconhecia a existência de um contrato celebrado entre o seu representante legal em Portugal e o pólo tecnológico de Oeiras.

Em causa no processo estão alegadas contrapartidas que o Taguspark terá dado, por intermédio do ex-administrador Rui Pedro Soares, ao ex-futebolista Luís Figo, para este apoiar a campanha de José Sócrates a primeiro-ministro nas legislativas de Setembro de 2009. De acordo com a acusação, José Mourinho também terá assinado um contrato com o Taguspark, mas a dada altura terá revogado esse contrato.

Falando como testemunha, por videoconferência, a partir de Madrid, Mourinho disse ao Tribunal de Oeiras que conheceu Rui Pedro Soares em 2009, em Milão, Itália, a pedido do seu representante legal em Portugal.

O treinador do Real Madrid adiantou que essa reunião tinha como objectivo falar de uma proposta "tentadora" da Portugal Telecom, e não do Taguspark, para a realização de uma campanha publicitária por 2,250 milhões de euros por três anos, valores que "desconhecia serem praticados em Portugal",

"Nunca me foi proposto um contrato com o Taguspark. Foi-me proposto um contrato com a PT [mas depois] o Luís Correia [representante do treinador em Portugal] disse-me que transformaram uma proposta de 2,250 milhões de euros, por três anos, numa de 250 mil por um ano", disse Mourinho, justificando o facto de não se ter realizado o acordo com a empresa.

O treinador do Real Madrid afirmou que, na altura, desconhecia a existência do Taguspark, assim como eventuais negociações para uma campanha publicitária com o pólo tecnológico de Oeiras, uma vez que delegava no seu representante legal (funcionário da Gestifute) a realização destes acordos.

"Quando me disseram que veio num jornal que eu ia responder por causa disso do Taguspark, liguei ao meu representante, que só aí me explicou sobre o contrato que já não ia assinar", disse.

José Mourinho adiantou que, à partida, o seu representante nunca assinaria um contrato como o que estava previsto com o Taguspark, uma vez que sempre se recusou a participar em acções de campanha publicitária nas quais participassem outros intervenientes – no caso, Luís Figo.

"Nunca me foi proposto [fazer um vídeo com Figo] e nunca me chegaria [essa proposta], porque a empresa sabe que é minha norma não me envolver em campanhas com outras pessoas, sejam elas quem forem", disse.

"Eles sabem fazer essa triagem. Há imensas propostas que nem me chegam. A PT chegou como um produto adequado à minha imagem, com uma quantidade económica bastante significativa. Aí chega a parte final [do processo], a empresa assina os contratos publicitários, nem sou eu que assino", acrescentou. Mourinho afirmou ainda que nunca se envolveu em política.

No final da sessão, o advogado de Rui Pedro Soares pediu ao tribunal, através de uma diligência judicial, que solicitasse à PT um email que o arguido enviou, em 2009, ao representante de Mourinho, no qual estaria uma minuta de um contrato, para ser anexado aos autos do processo.

As alegações finais do processo Taguspark estão agendadas para 8 de Maio, às 13h30, no Tribunal de Oeiras. Além de Rui Pedro Soares, são ainda arguidos no processo Américo Tomatti, à data dos factos presidente da comissão executiva do Taguspark, e João Carlos Silva, antigo administrador do pólo. Os três estão acusados de corrupção passiva para ato ilícito.

Fonte: Jornal O Público