Aumentam denúncias de violência sexual. Redes sociais potenciam casos

Vamos Falar Sobre Abuso Sexual é um documento da Ordem dos Psicólogos que pretende chamar a atenção para um crime que existe ainda maioritariamente no seio familiar, mas que está a ser potenciado pelas plataformas online.

As denúncias de casos de violência sexual estão a aumentar, tendo sido registadas no ano passado, pela Associação de Apoio à Vítima (APAV), 1752 queixas, existindo ainda muita falta de informação sobre os abusos que ocorrem online e que atingem, principalmente, os jovens entre os 12 e os 16 anos.

Estas são duas das ideias apresentadas no documento Vamos Falar Sobre Abuso Sexual disponibilizado pela Ordem dos Psicólogos nas suas redes sociais, site e aplicação, e com o qual pretende sensibilizar a sociedade e alertar para a necessidade de se falar do assunto e ajudar quem já tenha sido vítima.

Nas 53 páginas desta publicação da Ordem são apresentados alertas para as mais variadas situações que podem indiciar casos de violência sexual sob a forma de perguntas e respostas, com o objetivo de "consciencializar a sociedade para esta temática".

Baseando-se nos dados divulgados em março pela APAV -- 1752 casos de violência sexual denunciados em 2022, sendo que mais de 80% foram contra crianças e jovens; e que na Europa dados de 2015 mostram que 1 em cada 5 crianças é vítima de alguma forma de violência sexual -- a Ordem dos Psicólogos quer que estas situações sejam cada vez mais conhecidas de forma a prevenir a repetição, até porque está a ser detetado um aumento de casos.

"Existe, de facto, um aumento de denúncia dos casos de violência sexual que decorre não só pelas pessoas estarem mais atentas a estas situações e reconhecerem com maior rigor e cuidado a existência de práticas abusivas desta natureza, que configuram crime, mas também pelo facto de estarem mais dispostas e confiantes no sistema de justiça e no processo de denúncia e que têm confiança que vão existir consequências e o processo vai ser investigado", frisou ao DN Joana Cerdeira, vogal da Delegação Regional do Norte da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

A também psicóloga na Comissão Nacional de Promoção de Direitos e Proteção de Crianças e Jovens destaca, todavia, um problema que subsiste: "Existe ainda alguma falta de informação sobre os abusos que ocorrem online, que atingem principalmente os jovens dos 12 aos 16 anos."

Existe ainda alguma fala de informação sobre os abusos que ocorrem online, que impactam principalmente os jovens de 12 a 16 anos", refere Joana Cerdeira.

Este é, aliás, um dos pontos referenciados no documento Vamos Falar Sobre Abuso Sexual e explicado por Joana Cerdeira. "Sabemos que entre os 12 e os 16 anos, a maioria dos casos denunciados de abuso sexual, dizem sobretudo respeito a contactos entre agressores e vítimas, que acontecem online. Num mundo cada vez mais digital, o espaço da internet, dos chats de plataformas de jogos online e em redes sociais, pode ser inseguro. Existem situações de aliciamento sexual (ou grooming), em que a pessoa adulta procura manipular a criança ou adolescente a produzir conteúdos sexualizados, ou a encontrar-se com este/a", sublinha.

Apesar de as redes sociais serem cada vez mais um espaço onde existe o contacto entre vítima e agressor, os dados conhecidos ainda mostram que os abusos sexuais contra crianças prevalecem, na sua maior parte, "no contexto da relação familiar, enquanto espaço de relacionamento entre o autor e a vítima", adianta Joana Cerdeira que deixa um alerta: "É importante manter em mente esta informação as pessoas que praticam abusos sexuais são muitas vezes pessoas que conhecemos, e até, pessoas de quem gostamos."

E como se evitam estas situações? "Contribuindo para a implementação de medidas de prevenção e de informação e sensibilização de toda a comunidade (por exemplo, de escolas ou de outras organizações que trabalhem na infância), sobre sinais e sintomas das crianças vítimas de abuso sexual, sobre os seus impactos a curto, médio e longo prazo e sobre como os adultos cuidadores, podemos atuar perante suspeitas de crimes desta natureza", diz.

E a forma de atuar/ajudar as vítimas é uma parte importante do documento disponível no site da Ordem dos Psicólogos.

Lembrando que os indicadores estatísticos em Portugal apontam para que cerca de 80% das vítimas de crimes de abuso sexual sejam do sexo feminino (raparigas ou mulheres) e que em 90% dos casos os agressores são do sexo masculino, a publicação Vamos Falar Sobre Abuso Sexual explica como se deve lidar com este crime partindo de perguntas como "apoiar alguém que sofreu um abuso sexual?"; "como denunciar uma situação de abuso sexual?"; "o que podem fazer os pais/mães/cuidadores/as/educadores/as?". E é com as respostas apresentadas que os autores do documento esperam conseguir ajudar quem enfrenta situações deste tipo, ao mesmo tempo que destaca a importância da intervenção de psicólogos no apoio às vítimas nomeadamente "os que integram a carreira de inspetores na Polícia Judiciária e que utilizam os seus conhecimentos na investigação de crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual", como explica Joana Cerdeira.

NÚMEROS
1752 - Denúncia Relatório da APAV referente a 2022 mostra que no ano passado foram apresentadas 1752 queixas de abusos sexuais.

12 aos 16 -
Estatísticas Segundo a APAV 80% das vítimas de crimes de abuso sexual são do sexo feminino e com idades entre os 12 e os 16 anos.

1 - Europa Dados referentes a 2015 revelam que 1 em cada 5 crianças europeias é vítima de alguma forma de violência sexual.

Fonte: Diário de Notícias
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