Estado de Emergência “É uma questão de prudência manter a Páscoa como marco”, diz o Presidente
Marcelo Rebelo de Sousa diz que “desconfinar a correr por causa dos números destes dias será tão tentador quanto leviano”. Afirma-se de pedra e cal ao lado do Governo na gestão da pandemia e garante: “Não vamos cometer os erros do passado”.
O Presidente da República até começou a declaração ao país sobre a renovação do estado de emergência a repetir o essencial dos argumentos a favor de um desconfinamento acelerado, mas depois olhou para o “outro prato da balança” – o número de internados por covid-19, os atrasos nas vacinas e as insuficiências dos rastreios - e disse que tal não é possível.
Depois de carregar no acelerador, Marcelo Rebelo de Sousa travou a fundo e deixou claro que está de pedra e cal ao lado do Governo na estratégia de gestão da pandemia. O confinamento é mesmo para manter até à Páscoa – “um tempo arriscado para mensagens confusas ou contraditórias”, afirmou. “É uma questão de prudência e segurança”, acrescentou, depois de considerar que “abrir sem critério antes da Páscoa, para nela fechar logo a seguir, e voltar a abrir depois dela”, seria errado: “Quem é que levaria a sério o rigor pascal?”
“Implica isto mais umas semanas de sacrifícios pesados e, por isso, que o Estado vá mais longe em medidas de emergência e de futuro arranque? Implica”, afirmou o Presidente. A alternativa, justificou, poderia ser “ter de as tomar mais tarde multiplicadas por dois ou três”.
Marcelo Rebelo de Sousa tinha começado por dizer que desconfinar o mais rápido possível “é mesmo o mais sedutor, perante o cansaço destas exigentes semanas”, e até concordou que a abertura deve começar pelas escolas.
Repetiu os argumentos de quem o defende – a crise económica e social, a saúde mental, o segundo ano lectivo “atropelado”, a convicção de que o país já não volta aos números negros do fim de Janeiro. Mas contrapôs, mais à frente, que “nunca se pode dizer que não há recaída ou recuo” e lembrou que “os números que nos colocaram no lugar de piores da Europa e do mundo não são de há um ano ou meses. São de há um mês, tal como, de há menos de um mês, são as filas de ambulâncias à porta dos hospitais”.
Marcelo também compreende a proposta de vacinar mais cedo a população escolar para acelerar a abertura, mas lembrou que, “por atraso nas entregas de vacinas, não haverá, provavelmente, no próximo mês, mês e meio, vacinação, para garantir tudo o que se quer garantir, desde logo nas escolas”.
Insiste, como há 15 dias, de que é preciso “testagem e rastreio mais amplos e virados para o mais urgente”, que no caso das escolas poderia ser “com testes simples, rápidos mas fiáveis”. Mas compreende que “testar e rastrear, em escassíssimas semanas, nos termos que permitam a segurança necessária, pode ser complicado, mesmo só para as escolas”.
Acresce que “o número de internados ainda é quase o dobro do indicado pelos intensivistas” e que o número de doentes em cuidados intensivos “é mais do dobro do aconselhado, para evitar riscos de novo sufoco”.
Perante todas estas “razões opostas”, como decidir? Simples, diz Marcelo: “Decidir deve ser basear-se na consciência de quem decide, e não na preocupação de seguir a opinião de cada instante. Ora quer fechar por medo, ora quer abrir por cansaço”.
E decidir em consciência “é fundar-se em critérios objectivos e claros, como os dos indicadores da gravidade da pandemia e da pressão nas estruturas de Saúde, da vacinação, da testagem e do rastreio” e dar “os sinais certos” aos portugueses. Mas sobretudo, disse o Presidente, “decidir supõe, nesta pandemia, a solidariedade institucional e estratégica entre o Presidente da República, a Assembleia da República e o Governo”. Com um único fim, sublinhou: “Enfrentarem, juntos, a causa comum. Assim tem sido. Assim continuará a ser”.
Tal como há 15 dias, Marcelo insistiu na necessidade de um plano de reabertura, mas sem pressa: “Planear o futuro é essencial, mas desconfinar a correr por causa dos números destes dias será tão tentador quanto leviano”.
O Presidente, que volta a insistir ser “o principal responsável, pela natureza das coisas”, pela resposta do país à pandemia, lembra-se bem do que aconteceu no Natal e citou um “quase clássico” para sustentar o prolongamento do confinamento: “Um povo que não conhece a sua História, está condenado a repeti-la. Nós conhecemos bem a História deste ano de pandemia. Não cometeremos os mesmos erros.”
Fonte. Público
Foto: Miguel Figueiredo Lopes / Presidência da República / Lusa