À boleia da economia, as cotadas apresentam (em geral) contas mais sorridentes

Após três-quartos das cotadas do PSI 20 terem apresentado números do primeiro semestre, o cenário geral é positivo: mais receitas e mais lucros. O BCP foi o destaque pela positiva, enquanto a Jerónimo Martins e os CTT desiludiram.

No sprint de divulgação de resultados das cotadas do PSI 20 nos últimos 10 dias, a tendência não deixou espaço para dúvidas – houve mais CEOs a sorrir do que aqueles que tiveram que explicar números decepcionantes.

Se os resultados das cotadas portuguesas no primeiro trimestre deixavam claro que o aumento de receitas totais não tinha sido acompanhado por uma subida nos lucros totais, este semestre aponta para um quadro diferente.

No total, as 14 cotadas que já divulgaram números tiveram um disparo, em termos homólogos, de 44,3% nos lucros líquidos para 1.433 milhões de euros nos primeiros seis meses de 2017. A subida semestral contrasta com o resultado do primeiro trimestre, altura em que as empresas do PSI 20 apresentaram uma queda homóloga de 13% nos lucros totais.

Em termos de receitas totais, 12 das 14 cotadas (a Galp e a REN não apresentam esta rubrica) cresceram 7% em termos homólogos para 17.238 milhões de euros. Segundo os analistas contactados pelo Jornal Económico, há dois fatores principais por trás deste bom desempenho.

“Ainda que não seja demasiado evidente nos resultados do PSI como um todo, as cotadas que estão mais expostas à economia portuguesa estão a beneficiar da recuperação, o que é naturalmente positivo”, referiu o analista do BiG – Banco de Investimento Global, Bernardo Câncio.

Nos primeiros três meses deste ano, a economia portuguesa expandiu 2,8% em termos homólogos, o maior crescimento na última década. O ministro das Finanças, Mário Centeno, afirmou no final de maio que a tendência é para manter, prevendo um crescimento do PIB superior a 3% no segundo trimestre e 2% no conjunto de 2017.

João Queiroz, diretor da banca online no Banco Carregosa, viu como positivo na earnings season da Bolsa de Lisboa “o desempenho dos resultados dentro das expetativas dos investidores e analistas, o que mostra um quadro de sustentabilidade e capacidade de acompanhar os ciclos de crescimento económico mais rápido, externamente e no plano doméstico”.

Para o gestor, os setores em destaque foram os “cíclicos, que podem capitalizar da recuperação económica nacional e global”.

Reviravolta do BCP

Queiroz apontou ainda para outro fator: “o principal banco privado colheu resultados da adaptação dos custos e encargos às baixas taxas de juro e emagrecimento da carteira de crédito e financiamento”.

Suportado pela expansão contínua do resultado core e da redução significativa do crédito em risco, o BCP obteve lucros de 89,9 milhões de euros no primeiro semestre, quando no mesmo período do ano passado tinha registado prejuízos de 197,3 milhões de euros.

Essa diferença, de 287 milhões de euros, representou mais de metade da subida total de 440 milhões de euros das 14 cotadas. Bernardo Câncio classificou os resultados do banco liderado por Nuno Amado, que superaram as estimativas dos analistas, como “positivos”.

O analista do BiG referiu que, em sentido contrário, os aspetos negativos da época de resultados “são específicos a cada título” e não identifica “uma tendência negativa nos resultados transversal ao índice”.

João Queiroz vincou, no entanto, que “as empresas que dependem dos preços das matérias-primas cotadas internacionalmente não foram uma fonte de surpresas positivas (por exemplo, a Navigator e a Altri)”. A exceção são “as que dependerem mais do marketing e refinação/transformação, como a Galp e a Corticeira Amorim”.

Para Bernardo Câncio, “a Jerónimo Martins e os CTT destacaram-se pela negativa”. A retalhista aumentou os lucros em 0,6% para 173 milhões de euros, mas os números desiludiram os analistas, que esperavam, em média uma subida de 5%.

“No caso de Jerónimo Martins, os resultados não foram maus, mas o mercado provavelmente esperava algo mais além de um bom desempenho operacional dos vários segmentos de negócio”, frisou Câncio.

“No caso dos CTT, a má reacção parece ser mais justificada pelo mau desempenho ao nível de margens e volumes do segmento de correios e por alguma inércia do Banco CTT em conceder mais crédito” explicou.

O operador postal apresentou, esta segunda-feira, um tombo de 44% nos lucros para 17,70 milhões de euros, um desempenho que levou as ações a caírem 2,56% no dia seguinte.

Neste contexto, Bernando Câncio identificou uma particularidade na reação dos investidores aos resultados na Bolsa de Lisboa. “Temos notado alguma diferença na reação do mercado aos resultados do PSI 20 face aos europeus”.

“Se na Europa, bons resultados têm dado margem para algumas ações subirem, no PSI 20 bons resultados não têm sido suficientes para alimentar mais subidas e os maus resultados têm motivado quedas expressivas”, realçou. “O índice está mais sensível às surpresas negativas do que às positivas, o que sugere que podemos ter um terceiro trimestre menos positivo”.