Só 19% das habitações em Portugal têm seguro com cobertura sísmica
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Número de casas com seguros para risco sísmico sem evolução desde o sismo de agosto.
O número de habitações com cobertura sísmica em Portugal é de 19%, o mesmo valor aquando do sismo de agosto, já que o crescimento foi residual desde então, segundo a Associação Portuguesa de Seguradores.
Na segunda-feira foi registado um sismo de magnitude 4,7 na escala de Richter com epicentro a cerca de 14 quilómetros a oeste-sudoeste de Seixal, no distrito de Setúbal. No ano passado, em 26 de agosto, tinha havido um sismo de 5,3 ocorrido a oeste de Sines.
A Lusa questionou a APS sobre se aumentaram os seguros de cobertura de fenómenos sísmicos desde o sismo de agosto passado, tendo fonte oficial dito que "a variação do número de habitações com cobertura sísmica nos últimos seis meses é residual".
Em Portugal apenas 19% das habitações têm seguro com cobertura de risco sísmico, indicou a APS.
Em novembro passado, o regulador dos seguros (a ASF - Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões) anunciou que ia entregar em breve ao Governo propostas para a criação de um mecanismo de proteção contra riscos sísmicos.
A Lusa questionou esta terça-feira a ASF sobre já foi entregue a proposta ou quando será, mas até agora ainda não obteve resposta.
A intenção de criação de um fundo para risco sísmico tem décadas. Já em 2010, o Governo (PS, de José Sócrates) apresentou um anteprojeto legislativo para a criação desse fundo em consulta pública, mas não chegou a ter seguimento na sequência da crise.
Em abril de 2022, em entrevista à Lusa, o presidente da APS, José Galamba de Oliveira, defendeu que se torne obrigatória a contratação da cobertura de seguro de risco sísmico, quando já há a de incêndio, estimando à Lusa um custo de 25 a 75 euros de prémio anual, consoante as regiões do país e o tipo de construção.
José Galamba de Oliveira lembrou que esta é uma preocupação também do setor bancário, na medida em que muitas habitações estão dadas como garantias, hipotecadas no crédito à habitação.
"O nosso país tem uma exposição ao risco sísmico grande. Tem basicamente três zonas - a zona de Lisboa e Vale do Tejo e Algarve que é considerada zona de maior risco, depois temos a zona toda do litoral e depois temos o resto do país que tem uma menor exposição sísmica. Obviamente que na altura de calcular prémios para quem tem uma cobertura destas também é diferente a zona onde está, assim como também o tipo de construção", adiantou ainda na altura.
"Só para ter uma ideia do que é que estamos a falar, para um capital médio em Portugal das habitações de 150 mil euros de custo de reconstrução, estamos a falar num prémio que pode ir de 25 euros por ano a 75 euros por ano. Estamos a falar de dois euros por mês, o que não é uma coisa proibitiva, ainda que tenhamos consciência que para algumas famílias isso também possa ser um problema e também se podia ver com o Governo algum esquema de apoio social ou de Seguro Social para este tipo de situações", exemplificou.
Em 2023, a APS divulgou um estudo da Swiss Re segundo o qual Portugal é o país da Europa mais exposto a risco sísmico (incluindo à frente de Itália). O maior risco em Portugal continental é em Lisboa e Algarve.
Também em Portugal, os Açores têm uma elevada atividade sísmica.
Ainda segundo a APS, num evento severo, como o terramoto de Lisboa de 1755, as perdas podiam atingir 20% do Produto Interno Bruto (PIB).
Fenómenos sísmicos excluídos das coberturas base dos edifícios
A Associação Portuguesa de Gestores e Administradores de Condomínios (Apegac) alertou esta terça-feira para a ausência de cobertura de riscos sísmicos nos seguros dos edifícios de condomínios, defendendo a sua obrigatoriedade nas regiões mais suscetíveis do país.
Em entrevista à agência Lusa, o presidente da Apegac explicou que a cobertura de fenómenos sísmicos, a única que poderia cobrir os danos provocados por um terramoto como o que aconteceu na segunda-feira em Portugal, "não faz parte das coberturas base" dos seguros multirriscos contratados, "muitas vezes pelo facto de ser uma cobertura que tem uma taxa elevada e onera bastante o seguro".
"Em Portugal temos mais de três milhões de habitações familiares e aquelas que contrataram a cobertura de fenómenos sísmicos não chega a meio milhão, sendo evidente a pouca sensibilidade para a prevenção", afirmou Vítor Amaral.
Segundo a associação, isto "é um erro, porque Portugal tem algumas regiões de elevado risco de vir a ocorrer um terramoto a qualquer altura", sendo que "os prédios construídos até à década de 80 não estão preparados para abalos de maior dimensão".
Neste sentido, e numa altura em que "o Governo está a trabalhar na alteração e melhoria das políticas de habitação", a Apegac defende alterações ao artigo 1429º do Código Civil, aprovado em 1966, de forma a passar a impor a contratação de seguro multirriscos em todo o país e a inclusão obrigatória da cobertura de fenómenos sísmicos nas regiões com maior risco de ocorrência destas situações.
Conforme explica, atualmente, o artigo 1429º do Código Civil apenas determina como obrigatório o seguro contra o risco de incêndio do edifício, pelo que este é "o único risco que pode ser exigido que os condóminos contratem com uma seguradora".
Dada a "desconformidade" desta situação "com a realidade construtiva atual e com a sinistralidade existente noutras áreas, como tempestades, inundações, danos por água, rebentamento de canos, entre outras", generalizou-se, entretanto, a contratação do denominado seguro multirriscos.
Ora, sustenta a associação, "isto sossega a maior parte dos cerca de cinco milhões de portugueses que vivem em condomínio (para não falar dos outros cinco milhões que vivem em propriedade individual), por pensarem que o seguro multirrisco cobre todos os riscos", mas o facto é que "não é assim".
Isto porque, na maior parte das seguradoras, o seguro multirrisco "tem um leque de coberturas base muito reduzido, como o incêndio, tempestades, inundações e pouco mais", excluindo "coberturas importantes, pelo que se conhece pela sinistralidade inventariada, como rebentamento de canos, danos estéticos, riscos elétricos, entre outras".
Paralelamente, é evidente "uma tendência, que é maior quanto maior é a dificuldade das famílias em gerir o orçamento familiar, de contratar o seguro mais barato, sem ter o cuidado de verificar as coberturas, franquias, exclusões, por exemplo".
Alertando para as potencialmente graves consequências humanas e naturais dos fenómenos sísmicos, o presidente da Apegac aconselha a contratação dos seguros multirriscos com a respetiva cobertura, "mesmo sabendo-se que isso provoca um maior esforço na gestão do orçamento familiar".
Reeleita no final do ano passado, a direção da Apegac mantém como prioridade "uma luta de há já 20 anos": A regulação do setor da administração dos condomínios, para a qual não existe atualmente "qualquer requisito, a não ser chegar ao serviço de Finanças e declarar o início de atividade, mesmo sem ter estabelecimento aberto ao público".
"Se é uma atividade em que as pessoas têm dificuldade em confiar, era importante que o legislador regulasse e impusesse regras e sanções a quem não cumpre", sustenta Vítor Amaral, admitindo que "a regulação não resolvia o problema dos maus exemplos", mas seria "um crivo que daria alguma segurança ao consumidor".
Adicionalmente, a atual direção da associação defende o fim da duplicidade de seguros nas partes comuns dos edifícios, que diz ser "absolutamente inaceitável" e apenas "contribui[r], de uma forma injusta e sem qualquer necessidade, para o enriquecimento das seguradoras".
Neste sentido, considera que a legislação deveria determinar que, no caso dos condomínios, o seguro fosse feito através da respetiva administração.
"Ou seja -- explica o presidente -- não haver seguros individuais, mas passar a haver um único seguro, eliminando esta questão da duplicidade de seguros e de enriquecimento despropositado das seguradoras".
Fonte: Diário de Notícias
Foto: DN/Lusa